Técnica de atenção plena pode ser realizada em qualquer momento do dia,
inclusive no banho.
Sabe aqueles
momentos em que você se encontra totalmente no piloto automático? Isso pode
acontecer na rua, no trabalho, em casa ou em qualquer lugar em que você já
esteja na sua zona de conforto. Para quebrar essa bolha que nos deixa alheio a
muitas coisas que acontecem, existe o mindfulness, ou "atenção plena"
na tradução para o português.
"O estado
psicológico de mindfulness nos liberta de viver a vida como robôs fazendo,
dizendo, comendo e se comportando das mesmas velhas maneiras (e ironicamente
esperando resultados diferentes). Essa prática ajuda a 'enxergar' a realidade
presente de maneira mais objetiva, clara, para que possamos ser mais
continentes a ela e não engolidos por ela", explica a psicóloga Danniela
Sopezki, instrutora da prática e uma das fundadoras do Iniciativa Mindfulness.
Uma das formas de
conseguir inserir esse conceito na sua vida é pela meditação, mas
Danniela destaca que mindfulness não se limita a isso. "O termo é usado
para várias coisas. Podemos estar falando do estado psicológico, das práticas
(como a meditação), de uma característica inata em algumas pessoas, relacionada
a predisposições genéticas e experiências proporcionadas pelo estilo de
vida", conta ela.
"Nossa mente
tem poder de cura para questões emocionais e físicas, de resolução de questões,
de tomada de decisão, etc. Ao estimular a mente para um estado especial de
atenção, através do mindfulness, novas conexões neurais podem se formar e com
isso, novos processos de aprendizado podem ser estimulados. A verdadeira viagem
de descobrimento não consiste em ver novas paisagens, mas em ter novos olhos,
já dizia o escritor Marcel Proust", completa a também psicóloga Adriana de
Araújo.
O processo envolve
aprender a regular a atenção, propositalmente, com um senso de abertura e de
curiosidade, para a nossa realidade presente. "Ao expandir o estado de
mindfulness, aumentamos a nossa disposição para permanecermos mais conscientes
e, dessa forma, descobrimos um espaço de liberdade, para que possamos agir na nossa
vida com escolhas mais saudáveis, responsáveis, criativas e ajustadas a nossa
verdadeira essência, mais independentes de condicionamentos mentais", diz
Danniela.
Porque incluir o
mindfulness na sua vida?
Os benefícios do
mindfulness são tantos, que até hospitais estão incluindo a prática como um dos
braços no tratamento de câncer e HIV, conta Danniela: "Inclusive na
Inglaterra o mindfulness faz parte do sistema público de saúde como tratamento
para recaídas de depressão". Esse estilo de vida tem conquistado muita
gente por sua capacidade de melhorar a forma de nos relacionarmos com nós
mesmos, "estabelecendo um cuidado com o nosso corpo, estado emocional e
mental, porque passamos a nos observar e saber o que fazer para amenizar
desequilíbrios. Além de proporcionar autoconsciência e senso de integração mais
amplo (ecológico, social)", completa ela. Abaixo, a especialista reúne
alguns aspectos que melhoram com o mindfulness:
- Alívio de dores e tensões
- Diminuição da ansiedade e de
sintomas depressivos
- Redução do estresse e da
agitação mental
- Melhora da concentração e da
memória
- Auxílio na perda de peso
- Melhora do sistema
cardiovascular, digestivo e nervoso
- Redução da pressão arterial
- Melhora do sono
Como funciona
Entre as diversas
formas como é possível ser beneficiado pela técnica, o princípio com que ela
age no corpo é quase a mesma, por meio da atenção plena. Já pensou conseguir
potencializar a perda de peso com o mindfulness?
"Quem come distraído, fazendo outras atividades, raramente se sente
satisfeito com a quantidade correta e tende a comer mais e mais. A falta de
atenção leva a um abuso excessivo da quantidade e tipos inadequados de
alimentos para uma vida saudável", diz Adriana.
Ela destaca que, ao
trazer a atenção total para o que está fazendo, o que no caso seria durante uma
refeição, você degusta, sente as texturas, a temperatura e consegue saborear
cada alimento, ganhando um resultado melhor na relação de prazer com os
alimentos. Esse mesmo processo se aplica em outros âmbitos, como no trabalho,
nos estudos e nas relações pessoais.
Como começar
A boa notícia é que
qualquer pessoa pode incluir o mindfulness em sua vida. "Todos nós já
temos esse estado psicológico, em graus variados. Para obter os benefícios
comprovados, temos que aumentá-lo. Uma boa dica é buscar orientação
especializada, porque assim é possível entender teoricamente e, a partir da sua
própria experiência, conhecer os benefícios. Fazer aula de yoga, tai chi, artes
marciais também é uma forma de executar o mindfulness. Veja que não precisa
aumentar o tempo de prática apenas sentado. Há opções para todo mundo! Não há
receita de bolo, há o que é bom para você", destaca Danniela.
A ideia é que a
pessoa inclua a prática de acordo com o seu espaço, rotina e tempo. Escolha o
ambiente que quer começar, a posição que se sentir mais confortável, em pé,
sentado ou até deitado, em silêncio ou não, pelo tempo que preferir. "O
mindfulness cabe na vida de quem não tem quase nenhum tempo livre, inclusive.
Eu falo exatamente isso em meus grupos, que todo momento é um momento para
praticar mindfulness, até lendo essa reportagem", ressalta a especialista.
Para começar, você
pode escolher três momentos do dia que irá realizar o mindfulness. "Crie
lembretes para sair do piloto automático. Pode ser, por exemplo, uma na
refeição, outra no banho ou durante algum esporte, no tempo que caminha de um
lugar a outro, enquanto dirige. Comece a pratica com três situações de sua
rotina, especialmente onde passa mais tempo, seja estudando, trabalhando ou
treinando", orienta Danniela. Ela explica ainda como realizar a prática no
banho:
1. Sinta a
temperatura da água. Às vezes nem está tão ajustada a sua necessidade do dia,
seja gentil consigo mesmo.
2. Note as gotas
que caem e escorrem pelo corpo e as sensações que provocam na superfície da
pele.
3. Ao pegar seu
sabonete, shampoo ou qualquer outro produto, reserve um instante para sentir o
cheiro.
4. Ao tocar seu
corpo, observe as sensações. No contato das distintas texturas, talvez do
sabonete, da esponja, da própria mão, da espuma.
5. Observe se você
tem alguma urgência em querer fazer tudo tão rápido (não é necessário demorar,
poupe água, é necessário apenas atentar).
6. Observe se a
mente insiste em pensar em outras coisas e a convide a tomar banho com você.
Se, de repente, surgir um pensamento mais sexual, não se preocupe, se deixe
levar e mantenha a mente aberta.
7. Note as partes
do corpo que entram em movimento para você conseguir tomar banho.
8. Ouça o som da
água, do chuveiro, dos seus movimentos.
9. Faça observações
sobre o seu corpo ? sem julgá-lo.
"Cada banho
tem uma novidade: você consegue notar? Faça o mesmo enquanto se seca, notando a
textura da toalha, a mudança de temperatura, seu cheiro, sensação física no
corpo. Esteja de corpo e alma na tarefa. Você gasta uma grana com toalhas e
fragrâncias e um bom banheiro, mas está aproveitando ou o piloto automático que
toma banho e não curte nada?", questiona Danniela.
Contraindicações
A contraindicação
seria em relação ao tipo de atividade sugerida, sua dose e possibilidades de
efeitos adversos. "Existem intervenções especializadas para os mais
distintos problemas mentais e físicos, e isso demanda que o profissional saiba
o que está fazendo. No caso de pessoa em crise ou sintomas mais sérios, ela
deve procurar um profissional da área da medicina ou psicologia porque nesses
casos há a demanda de intervenções psicoterapêuticas baseadas em mindfulness,
talvez não seja a hora de meditação", lembra a especialista. "Uma
pessoa deprimida não tem energia para meditação longa e alguém com extrema ansiedade pode se sentir pior. Mas,
como é possível praticar mindfulness em todos os momentos, os profissionais
capacitados saberão prescrever o quê, o quanto e como o seu cliente pode
praticar, em função de seu quadro clinico do momento", finaliza Danniela.
Fonte: MSN