O posicionamento divulgado sobre o óleo de coco foi muito compartilhado e acessado, o que só demonstra a necessidade de todos de receberem informação séria e responsável, e achamos que a ABESO tem como importante missão sanar eventuais dúvidas.
A parte da ineficácia do óleo de coco para o emagrecimento gerou muito poucas dúvidas, até porque, de fato, não há qualquer base para tal afirmação. A parte dos óleos vegetais, porém, gerou um pouco mais de discussão.
Discorreremos brevemente sobre essa parte:
As gorduras saturadas são encontradas em carnes, leite e seus derivados e desempenham importantes papéis dentro de nossas células e, portanto, seu consumo, em moderação faz parte de uma dieta saudável.
Os ácidos graxos saturados não são iguais em suas ações sobre o risco cardiovascular e alterações metabólicas. O ácido esteárico, presente no cacau, não influencia na concentração plasmática de colesterol. Já os ácidos láurico e mirístico, presentes em grande quantidade no coco, apresentam maior potencial de elevar a colesterolemia. Além disso, o ácido láurico é também presente no LPS (substância produzidas por algumas bactérias) e gera um processo inflamatório, que pode aumentar o risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes e doença cardiovascular. Isso já foi bem demonstrado em culturas de células humanas.
Alguns ácidos graxos da série ômega 3 e ômega 6 são essenciais, ou seja não são sintetizados no nosso organismo e, portanto, devem fazer parte de nossa dieta, sendo suas principais fontes, na dieta brasileira, óleos vegetais, como soja e canola. Diversos estudos clássicos da literatura evidenciaram que a substituição de parte da gordura saturada da dieta por essas gorduras poli-insaturadas é benéfica.
Uma recente metanálise (publicada há menos de 2 meses), com cerca de 59.000 pacientes, feita pela Biblioteca Cochrane, reafirmou que a substituição parcial de ácidos graxos saturados por poli-insaturados, por mais de 2 anos, reduziu em 27% os eventos cardiovasculares. Somente estudos considerados de alto grau de evidência (os randomizados e controlados) foram incluídos (15 no total), o que dá uma força imensa a essa conclusão. Nosso posicionamento está em consonância com os resultados deste estudo e é concordante com as diretrizes da Associação Americana de Diabetes e Associação Americana de Cardiologia.
Temos como compromisso o acompanhamento dos mais recentes achados da literatura (visto que a ciência é dinâmica), mantendo-nos atualizados e evitando desinformações, o que, infelizmente, é muito corriqueiro na internet nos dias atuais. A literatura médica é vasta e artigos com os mais diferentes resultados podem ser encontrados, mas devemos sempre nos basear no corpo maior de evidências e em estudos de alta qualidade e que foram replicados.
Para profissionais de saúde, sugerimos os seguintes artigos:
Hooper L, Martin N, Abdelhamid A, e cols. Reduction in saturated fat intake for cardiovascular disease.Cochrane Database Syst Rev. 2015 Jun 10;6:CD011737
Baum SJ1, Kris-Etherton PM, Willett WC, e cols. Fatty acids in cardiovascular health and disease: a comprehensive update. J Clin Lipidol 2014; 6(3):216-3
Suzuki M, Takaishi S, Nagasaki M, e cols. Medium Chain Fatty acid-sensing receptor, GPR84, is a proinflammatory receptor. J Biol Chem 2013; 288(15): 10684-10691
Fonte: ABESO