O tratamento cirúrgico da obesidade começou a ser aplicado,
ainda no final dos anos 1950, nos Estados Unidos, para pacientes com a chamada
obesidade extrema. Até o início dos anos 1970 prevaleceram as técnicas
designadas disabsortivas, nas quais se realizavam grandes desvios intestinais,
que eram acompanhadas de altos índices de complicações. Essas técnicas foram
realizadas também no Brasil, na mesma época, em número pequeno de pacientes.
Nos anos 1980 ocorreu uma “guinada” no tipo de cirurgia realizada e prevaleceram,
nessa época, as operações designadas restritivas, ou que realizavam
apenas a redução do tamanho do estômago, sem mexer no intestino. Vem dessa
época a designação que hoje muito se utiliza para cirurgia bariátrica como
cirurgia de redução do estômago. Esse tipo de cirurgia, embora com menos
complicações, apresentou altos índices de mal resultado, com perda de peso
insuficiente ou reganho de peso muito expressivo. Os anos 1990 viram o
aparecimento e difusão das técnicas chamadas mistas, que combinaram a redução
do estômago com o desvio intestinal. Essas técnicas apresentaram melhores
resultados do que as técnicas restritivas e menos complicações do que as
técnicas disabsortivas, sendo as mais realizadas no Brasil até os dias de hoje.
São conhecidas por diferentes nomes que, via de regra dize respeito ao mesmo
procedimento ou a procedimentos muito semelhantes entre si: derivação
gastro-jejunal, Y-de-Roux, Bypass Gastrico, Cirurgia de Fobi-Capella.
Também nos anos 1990 se estabeleceram mais precisamente os
critérios de indicação cirúrgica, ou seja, quem são os pacientes obesos
candidatos a cirurgia. A partir dos anos 2000, as cirurgias começaram a
ser realizadas por vídeo-laparoscopia. Tornaram-se mais seguras, a recuperação
ficou mais rápida e o resultado estético melhor. Isso atraiu muitos pacientes
que antes não pensavam na cirurgia como uma opção, até mesmo aqueles que, a
princípio, não se enquadravam nos critérios de indicação. Esses critérios levam
em consideração três principais fatores: 1- o grau de obesidade medido pelo
Índice de Massa Corporal ou IMC; 2- o tempo de evolução da doença obesidade (a
quanto tempo o paciente esta obeso naquele grau) com as tentativas de
tratamento clínico às quais o paciente se submeteu;3- a presença ou não de comorbidades
que são doenças causadas ou agravadas pela obesidade ( a lista é de algumas
dezenas). A combinação desses fatores é que vai determinar se um determinado
paciente é ou não candidato ao tratamento cirúrgico.
O IMC é uma relação entre o peso da pessoa em quilos e sua
altura em metros (Kg/m2). Assim, por exemplo, uma pessoa que pesa 110 Kg e tem
altura de 1,60m terá um IMC de 43 Kg/m2. Considerando o que foi exposto,
podemos resumir os critérios de indicação da seguinte maneira:
1.
Pacientes
que tenham IMC maior ou igual a 40 Kg/m2, há pelo menos 2 anos, que não tiveram
sucesso com tratamento clínico orientado por endocrinologista .
2.
Pacientes
que tenham IMC maior ou igual a 35 Kg/m2, nas mesmas condições do critério
anterior e que apresentem pelo menos duas comorbidades. As principais
comorbidades ou aquelas consideradas mais graves e que são mais levadas em
consideração na avaliação desse critério são: diabetes tipo II, hipertensão
arterial, alterações do colesterol ou triglicérides (dislipidemias), apneia
obstrutiva do sono, gordura no fígado (esteatose), problemas ortopédicos graves
(artroses importantes, hérnia de disco). Mas outros problemas nos quais a perda
de peso pode contribuir muito com a melhora ou cura também podem ser levados em
consideração (Ex: infertilidade).
Alguns pacientes, mesmo estando dentro desses critérios, podem
apresentar situações específicas que devem ser avaliadas e podem ser motivo de
contra-indicação ao tratamento. Podemos citar algumas dessas situações:
1.
Adolescentes
: só podem ser operados pacientes com mais de 16 anos. Mesmo assim, pacientes
que tenham entre 16 e 18 anos necessitam de avaliação clinica e psicológica
especial, avaliação e consentimento da família e aprovação de comissão de ética
do hospital aonde será feita a cirurgia.
2.
Idosos
com mais de 65 anos: esses pacientes necessitam avaliação pré-operatória
especial, de preferência com medico geriatra, para avaliação dos benefícios da
cirurgia.
3.
Pacientes
com antecedentes de doença psiquiátrica, alcoolismo ou adição (uso e vício em
substâncias como Cocaína, Crack, etc..): esses pacientes necessitam de
avaliação psiquiátrica detalhada para se estabelecer o controle ou não de
doenças psiquiátricas pré-existentes e do vício.
4.
Pacientes
com cirurgias abdominais prévias: pode dificultar a realização da cirurgia,
deve ser avaliado pelo cirurgião.
5.
Portadores
de doenças crônicas (anemia, insuficiência renal, doenças do fígado, doenças
endócrinas entre outras): embora não se constituam em contra-indicações
absolutas, podem aumentar o risco cirúrgico ou interferir na escolha da técnica
que será empregada.
Fonte:ABESO
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