Um em cada
dois adultos toma pílulas de vitaminas todos os dias, e os americanos gastam
bilhões de dólares ao ano com as suplementos. Agora, um pequeno grupo de
médicos que escreve para uma importante revista científica está dando um
conselho bem claro: 'Parem de jogar dinheiro fora'.
Em um artigo raro, por
apresentar uma opinião categórica, os cinco autores afirmam que, para os
americanos saudáveis preocupados com doenças crônicas, não há benefícios claros
no consumo de pílulas de vitaminas e minerais. Além disso, em alguns casos elas
podem até ser prejudiciais.
A única exceção feita
pelos autores foi o suplemento de vitamina D, que, segundo eles, ainda precisa
passar por mais pesquisas. Ainda assim, o uso generalizado das pílulas de
vitamina D 'não se baseia em evidências sólidas de que os benefícios superem os
danos', afirmam os autores. Quanto às demais vitaminas e suplementos, 'o
veredito já foi dado'.
'A mensagem é clara',
continua o editorial. 'A maioria dos suplementos não ajuda a prevenir doenças
crônicas ou a morte, seu uso não é justificado e deveria ser evitado'. 'Temos
tantas informações baseadas em tantos estudos', afirmou em uma entrevista a
Dra. Cynthia D. Mulrow, vice-diretora sênior da revista Annals of Internal
Medicine, e uma das autoras do editorial. 'Não precisamos de muito mais
evidências para acabar com essa prática'.
Autoridades da
Associação de Produtos Naturais, uma organização comercial que representa
varejistas e fornecedores de suplementos, afirmaram que ficaram chocadas com o
que chamaram de 'um ataque' ao setor, apontando que um estudo publicado no ano
passado revelou uma redução modesta na incidência de câncer em um longo estudo
clínico controlado e randomizado envolvendo 15.000 médicos.
'Os integrantes do nosso grupo oferecem e vendem seus produtos
para ajudar as pessoas a obterem um estilo de vida mais saudável', afirmou John
Shaw, diretor executivo da associação, acrescentando que não entende porque o
setor está sendo criticado 'por tentar promover a saúde e o bem-estar'.
A demanda por
suplementos de vitaminas e minerais cresceu drasticamente nos últimos anos, com
as vendas no mercado americano totalizando 30 bilhões de dólares em 2011. Mais
da metade dos americanos utilizava ao menos um suplemento alimentar entre 2003
e 2006 – entre 1988 e 1994 o total era de apenas 42 por cento –, de acordo com
o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Os produtos mais comuns são os
complexos multivitamínicos e os suplementos minerais, que são consumidos por 40
por cento dos homens e mulheres dos Estados Unidos, de acordo com dados da
Pesquisa de Exame Nacional da Saúde e da Nutrição.
Nunca houve uma prova
cabal de que o uso regular e prolongado desses suplementos ajudasse a prevenir
doenças cardíacas, ou câncer, e os autores do editorial não foram os primeiros
a mostrarem isso.
A Cochrane
Collaboration, que publica resumos de evidências médicas, também concluiu que o
consumo de vitaminas não aumenta a expectativa de vida. Uma revisão atualizada
das evidências feita pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA também concluiu
que existem evidências limitadas de que o consumo de suplementos vitamínicos e
minerais sejam capazes de prevenir o câncer ou as doenças cardiovasculares.
Entretanto, a
força-tarefa apontou que dois estudos clínicos revelaram pequenas reduções na incidência
de câncer entre homens que tomam complexos multivitamínicos. Todavia, outros
estudos mostraram que suplementos de betacaroteno parecem aumentar o risco de
câncer de pulmão entre fumantes, conforme destacou o resumo da força-tarefa, e
que doses altas de vitaminas A e E causam danos e podem aumentar o risco de
morte.
O editorial publicado
nos Anais foi acompanhado por dois novos estudos que apontam resultados
desalentadores para os complexos vitamínicos quanto à capacidade de ajudar a
preservar a função cognitiva e de prevenir ataques cardíacos. Em um estudo
envolvendo quase 6.000 médicos maiores de 65 anos, os participantes que
consumiram complexos multivitamínicos por mais de uma década tinham a mesma
probabilidade de manterem a função cognitiva à medida que envelheciam, se
comparados a médicos da mesma idade que haviam tomado placebo.
Porém, a Dra. Francine Grodstein, uma das principais autoras do
estudo, afirmou que, uma vez que os médicos costumam ter dietas saudáveis e
serem bem nutridos, os nutrientes podem não fazer muita diferença nesses casos.
'Eu acredito que exista espaço para mais pesquisas', afirmou Grodstein, que não
escreveu, nem assinou o editorial.
Demonstrar que a
prevenção de doenças crônicas pode levar décadas e conduzir estudos de longa
duração, randomizados e controlados, é difícil e bastante caro. 'Nós não temos
e provavelmente nunca teremos dados de estudos randomizados realizados ao longo
de décadas', afirmou.
Os resultados de outro
estudo clínico publicado pela revista revelou que doses altas de vitaminas e
minerais não evitam futuros problemas cardiovasculares em pacientes com mais de
50 anos e histórico de ataques cardíacos, embora a pesquisa tenha sido afetada
por um grande volume de desistentes.
Até o momento foram
realizados poucos estudos randomizados sobre os efeitos dos complexos
multivitamínicos e de minerais em relação a doenças cardíacas, câncer e ao
risco de morte, segundo o Dr. Stephen P. Fortmann, pesquisador sênior no Kaiser
Center for Health Research. O esboço de novas recomendações da força-tarefa,
baseado em um resumo atualizado, demonstra que existem evidências insuficientes
para recomendar ou não o consumo de vitaminas.
Entretanto, Fortmann,
que também não escreveu nem assinou o editorial sugeriu que as pessoas que
compram vitaminas podem estar 'jogando dinheiro fora', e acrescentou: 'Não
acredite que isso compensa uma alimentação ruim, que você pode comer um monte
de fast food e depois tomar os suplementos. Essa é uma péssima ideia'.
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